Texto hiper-pessoal
Desilusão.
Não é novidade para ninguém, o facto de eu raramente escrever
sobre a minha vida pessoal. Não gosto. Não que tenha muito para ocultar, sinto
sim que este blog não é um diário pessoal – nada contra esse género de blogs,
visito alguns de que gosto muito – gosto mais de revelar o que observo à
minha volta do que me debruçar sobre o meu ser alienígena. Não sei como definir este blog,
nem em que categoria o colocar. Talvez seja algo tipo um jornal alienado,
editado por um ser que pouco tem de ordinário. Arrogante? Admito; às vezes.
Hoje – deu-me para isto – decidi revelar algo pessoal. Não
sei se vou ser entendida mas, o objectivo é mesmo dar a conhecer uma parte de
mim com que muitos já se depararam. Desilusão. É mesmo sobre esta que vos vou
esclarecer, sobre como se desenrola este processo entre mim e determinados
humanos que se esbarram comigo.
Sentados? O chichi já foi feito? Lavaram as mãos? Ok, então
aqui vai nada, ou qualquer coisa.
Não sou um ser que passa pelas fendas da chuva. Aqueles que
me conhecem, ou gostam ou odeiam, não há meio-termo. Não entendo por que carga
de água a minha pessoa atrai paixões ou ódios. Mas, sinceramente é um assunto
que ficará – talvez – para outro texto.
Desilusão. Não, não vou escrever sobre as pessoas que já me
desiludiram, vou sim falar do processo que leva outras a ficarem desiludidas
comigo.
O fogo-de-artifício e quando este chega a um termino. É assim
que vejo a situação e como dou conta que as pessoas que desiludi, nunca me
conheceram verdadeiramente, daí a desilusão.
O impacto que tenho nas pessoas que me conhecem e se deixam
cativar é tipo fogo-de-artifício. Cria-se de imediato uma empatia, um laço
aparentemente forte, acendalhas voam do meu corpo para
a outra pessoa. Revelo partes de mim complicadas, ou aparentemente complicadas,
o que deixa com que os outros sintam que “são a bolacha mais importante do
pacote”. Adorei esta frase quando a ouvi. Não pensem que faço jogos, não entro
nesse tipo de brincadeiras, vou-me revelando, posso mesmo contar mais do que
devia aos outros, mas deixo sempre uma parte com a porta entreaberta.
É o que está por detrás dessa porta que mais tarde vai
desiludir o outro. Aí, nessa outra divisão encontram-se os meus limites.
Encontra-se a importância que dou verdadeiramente ao outro. Não me culpem por
apenas verem o fogo-de-artifício.
Desiludi. Sim. Culpa minha? Não sei.
Por vezes tenho a sensação de que os outros apenas vêem
verdadeiramente aquilo que querem ver; uma Alien divertida, com a qual podem
contar para o que der e vier, que expõe as suas emoções sem medos, que sabe que
a queda pode ser grande consoante a importância que dá ao outro, mas que arrisca
quando pensa valer a pena.
Onde reside o problema? No meu lado mais obscuro, no meu lado
mais frio, que se desliga com facilidade do outro quando se dá um curto-circuito
na relação. Da mesma forma que hoje posso amar, amanhã nada sinto. É um
mecanismo estranho de defesa que não domino.
A desilusão, a dos outros, dá-se quando me querem mudar.
Quando querem algo que apenas dou quando sinto que chegou o momento. As minhas
palavras e acções deixam de ser compreendidas e dá-se o caos. Se sou egoísta quando
menciono que gosto que as coisas sejam feitas de acordo com os meus limites?
Sou.
A desilusão dá-se quando o outro nunca me conheceu
verdadeiramente. Dei a conhecer pedaços da minha vida, dei a minha mão sempre
que foi solicitada, nunca virei as costas mas pedem-me mais.
O encanto perde-se. Tal como nas relações amorosas, também
nestes casos o encanto perde-se quando eu, não dou da forma esperada o que me é
pedido. Parte de mim que apenas poucos dedos da minha mão detêm. Cinco? Quatro?
São as pessoas que conhecem a minha verdadeira essência, o que realmente
sou e posso dizer que essas não se desiludem comigo, sabem como lidar com determinadas situações quando estas se revelam. Já
viveram o fogo-de-artifício e passaram para o outro lado, foram capazes de
entrar na porta entreaberta e conhecer-me realmente.
Tenho consciência de que o fogo-de-artifício atrapalha. Mas,
não me posso culpar por isso. É necessária muita paciência até que o outro me
consiga conhecer de verdade e, o mais irónico é quando pensam que me
conhecem e apenas tiveram uma amostra da superfície.
A todas as pessoas que desiludi não peço desculpa. Não posso
mudar, não sou capaz. Se por qualquer motivo se deixaram ofuscar, acreditem que
não foi por feito meu. Acção planeada. Foi por circunstâncias que me escapam. A cegueira não foi provocada intencionalmente por mim.
Para finalizar, acreditem que gostava de não ser tão fria
quando desiludo alguém, mas faz parte do meu circuito-interno. É uma defesa.
Tenho sempre os sentimento dos outros em atenção, faço de tudo
para não decepcionar, mas só tenho cinco dedos e nesses cinco encontram-se pessoas por quem
eu faço qualquer coisa, porque sei que nunca me iram deixar ficar pendurada.
São família. Não vêem o fogo-de-artificio, vêem-me a mim.
Desiludi. Vou continuar a desiludir até que o outro consiga
entrar na minha porta entreaberta sem ser ao pontapé.
Mas isto sou só eu
Nota: Dei a conhecer um pouco de mim. Se para os visitantes é
um pedaço bom ou mau, isso já é com cada um.